sexta-feira, 26 de junho de 2009

Retrocesso ambiental brasileiro diante às tendências mundiais

Na contramão da tendência mundial de colocar as questões ambientais como prioridade na pauta governamental dos países, o Código Florestal Brasileiro está em iminente processo de revisão. Quem lidera o processo é o nosso ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Reinhold Stephanes, que esteve recentemente em Campo Grande para comentar este assunto e outros no tocante ao agronegócio no Mato Grosso do Sul (Informe Agropecuário MS, Nº274 de abril de 2009).

Stephanes argumenta que a revisão do Código Florestal é imprescindível para o desenvolvimento do país como uma potência agropecuária no cenário mundial, até mesmo no setor de biocombustíveis. Os argumentos que ele apresenta para tais modificações encontram respaldo em recente estudo publicado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), unidade Monitoramento por Satélite, localizada em Campinas, SP. Neste estudo, liderado por Evaristo de Miranda, a lei ambiental brasileira é colocada como principal entrave para a ampliação de áreas agricultáveis, com potencial promissor para alavancar a balança comercial brasileira e firmar o Brasil como líder mundial do setor. Segundo este estudo, se o código fosse cumprido à risca (isso nunca aconteceu desde sua publicação em 1965), apenas 30% do país estaria disponível para a expansão do agronegócio brasileiro.

Os resultados deste estudo estão sendo duramente criticados pelos próprios técnicos daquela unidade da Embrapa, que argumentam a falta de critérios claros e de metodologia precisa para as conclusões tiradas. Ao que nos parece, os resultados e conclusões se alinham aos anseios da bancada ruralista e empresarial, que demanda de expansões em seus setores para justamente, saírem ilesos da atual crise econômica mundial.

De fato, o cumprimento à risca do nosso código florestal, considerando também as diversas áreas protegidas do país, o nosso montante protegido é bem satisfatório ao que se destina. Porém, nossa área destinada à agricultura também é muito grande, e pode aumentar sua produtividade com uso de tecnologias agrícolas modernas, que suprirão a crescente demanda por alimentos durante dezenas de anos. O próprio presidente Lula sabe disso e já falou publicamente estas mesmas palavras. O vice-presidente do Conselho Nacional de Pecuária de Corte (CNPC), Sebastião Guedes disse que não é preciso derrubar mais uma árvore sequer para termos uma pecuária moderna e produtiva durante o 22º Encontro de Tecnologias para a Pecuária de Corte, que aconteceu no final de abril, em Campo Grande. Do outro lado dessas mentes sóbrias e com visão de futuro e, como se não bastasse o empenho do ministro Stephanes em depreciar nosso código florestal, o Supremo Tribunal Federal acaba de derrubar de piso para teto, os 0,5% do valor do empreendimento, em caso cabíveis de multa ambiental. Como se as leis ambientais fossem cumpridas e os infratores devidamente penalizados. Um dos exemplos mais evidentes com relação ao descaso com as questões ambientais e à irresponsabilidade social foi dado pelo governo de Santa Catarina. Como se não bastassem os desabamentos que ocorreram neste estado no início do ano, como decorrência do mau uso do solo e plantio em Áreas de Preservação Permanente (APPs) (justamente as áreas que estão na mira do ministro da agricultura), o governo deste estado decretou a diminuição das APPs de 30m de faixa para apenas 5m no caso de propriedades localizadas em regiões de nascentes e de pequenos córregos. Além de ser conivente com as mortes decorrentes dos desabamentos no início deste ano, o governo catarinense dá enormes passos para trás com relação ao seu meio ambiente e à sua sociedade, além de confrontar, em ato claramente inconstitucional, a avançada legislação ambiental brasileira.

Para concluir, tomamos emprestadas as palavras da ex-ministra do meio ambiente Marina Silva “no momento em que o mundo reconhece, em meio ao final de festa de um modelo consumista, poluidor e concentrador de riquezas, que a saída envolverá forte guinada para uma relação mais equilibrada com o meio ambiente. E, justo quando poderíamos assumir liderança inconteste nesse rumo, mergulhamos no atraso“ (Folha de S.Paulo, 20/04/2009). Até quando deixaremos a ganância, o poder e o lucro a qualquer custo derrubarem nossa racionalidade, sensibilidade e humanidade, que são os únicos caminhos que podem nos levar a um futuro mais justo, seguro e sustentável?

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